História de amor
Que me contaram
E agora eu vou contar
Do amor do príncipe
Shah-Jahan pela princesa
Mumtaz Mahal..."
Trecho da música Taj Mahal de Jorge Ben Jor
O post de hoje fala sobre uma das histórias de amor mais
antigas e tocantes da humanidade. Um amor que tem sobrevivido ao
tempo, que se tornou uma das nove maravilhas do mundo e que foi fonte de
inspiração para criação de uma das fragrâncias mais importantes da história da
perfumaria. O monumento é o TAJ MAHAL e a fragrância é a belíssima Shalimar de
Guerlain.
Minha querida amiga Ana Caldatto me presenteou com um frasco
histórico, uma verdadeira jóia rara de mais de 80 anos com a primeira
configuração de Shalimar dos anos 30. O frasco em cristal da Maison Baccarat veio com sua
caixa original e ainda apresenta os selos de Mil Réis, moeda vigente na época.
Confesso que fiquei tão emocionada com esse presente inesperado que não consigo
pensar em outra coisa há mais de uma semana. Fiquei tão tocada com a qualidade
da fragrância que, mesmo tão antiga, continua incompreensivelmente maravilhosa.
Quando a Ana estava à caminho do nosso encontro na semana
passada, ela me antecipou que havia derramado acidentalmente um pouco da
fragrância na hora de transportar e que havia tomado banho e lavado as mãos
várias vezes na tentativa de tirar o cheiro (sem sucesso obviamente). Eu achei
muito engraçada a situação. Quando ela chegou (aliás foi nosso primeiro
encontro, pois não a conhecia pessoalmente), logo que a abracei senti aquele
aroma delicioso de maquiagem vintage, um atalcado majestoso e aconchegante.
Conforme ela gesticulava o perfume se disseminava, deixando um cheiro delicioso
e hipnotizante no ar.
No final do encontro ela me entregou o presente o qual
prontamente guardei no meu carro. Qual não foi minha surpresa quando ao abrir
meu carro, horas depois, o cheiro havia invadido completamente. Inebriante e
sensual, chegou a mudar o meu estado de humor.
Mas antes de falar especificamente sobre a fragrância, não
posso deixar de mencionar rapidamente a história do TAJ MAHAL, aquela que foi
homenageada na canção de Jorge Ben Jor que incluí na abertura desse post e que
se tornou a inspiração de Jacques Guerlain para criar o maravilhoso Shalimar.
A história começa com o príncipe Khurram que ficou
popularmente conhecido como Shah Jahan, nome persa adotado por ele próprio
quando se tornou rei em 1627. Jahan foi considerado o quinto imperador e um dos
homens mais poderosos do Império Mongol que dominou a Índia por mais de 300
anos. Inicialmente planejava somente a expansão do Império. O governo de Jahan
foi muito próspero, porém sua vida pessoal foi bastante conturbada.
O imperador casou várias vezes até conhecer sua terceira
esposa, em 1612. De origem persa, Aryumand Banu Begam foi a mulher mais amada
de Shah Jahan e ele a batizou de Mumtaz Mahal, que significa “a eleita do
palácio”. Alguns textos mencionam que o príncipe tinha apenas 14 anos de idade
quando encontrou Aryumand pela primeira vez e que sua paixão foi tão
avassaladora que ele logo quis presentear a garota com um diamante de 10 mil
rupias.
15 anos depois Jajan e
Mumtaz se casaram e tiveram um casamento sólido e duradouro. Eles se casaram
numa data escolhida pelos astrólogos para assegurar felicidade do casal, e
parece que deu certo. Shah Jahan tinha outras duas esposas, mas só tinha olhos
para sua Mumtaz Mahal. Alguns cronistas indianos do século 17 descreveram o
amor deste casal como infinito, repleto de paixão e cumplicidade. Mumtaz
acompanhava seu adorado esposo mesmo em viagens militares, tamanho era o apego do casal. Eles
tiveram 13 filhos.
Depois de 20 anos de casamento, o rei perdeu sua amada e
pelos registros históricos, tudo indica que a causa da morte está relacionada
ao nascimento do 14º filho do casal.
Foi aí que essa triste história se transformou em um precioso
palácio. Para provar o seu amor, Shah Jaham ordenou a construção de um
majestoso mausoléu em homenagem ao grande amor de sua vida. A construção
demorou mais de uma década (1631 e 1643) e mais de 20.000 trabalhadores foram envolvidos
nesse trabalho e ergueram as paredes do palácio denominado TAJ MAHAL, que
significava “Palácio da Coroa”. Dizem que o monarca ordenou um luto de 2 anos e
que ficava horas olhando o TAJ MAHAL e
recordando os momentos felizes ao lado de Mumtaz.
Os jardins de
Shalimar ficam em Lahore, no atual Paquistão. Na época em que foram criados, seguiram
a arquitetura tradicional islâmica, de inspiração persa. Os detalhes
intrincados dos alambrados e as 410 fontes, além de terraços, pavilhões de
recepção, cascatas e espelhos d’água, garantem um lugar entre os jardins
lendários do Oriente.
Cinco anos depois após a construção do monumento Shah adoeceu
e seu corpo finalmente descansou em paz ao lado de sua amada. Seu filho assumiu
o trono, porém os historiadores comentam que os altos custos do Taj Mahal
acabaram falindo e levando ao fim o Império Mongol na Índia.
De onde vem a inspiração de SHALIMAR de GUERLAIN
Dizem que Jacques Guerlain criou esse perfume há 93 anos
atrás para prestar uma homenagem à história de amor de Shah e Mumtaz. Os
Jardins de Shalimar foram um presente do imperador Jahan à sua amada esposa
Mumtaz Mahal quando ela ainda estava viva. Era um dos lugares favoritos da sua
amada e onde eles compartilharam momentos de sua paixão inesquecível.
Atualmente os Jardins de Shalimar fazem parte do complexo da construção do Taj
Mahal e além de possuírem árvores, flores, apresentam também lagos e alguns
pavilhões sombrios.
O belíssimo frasco desta fragrância foi executado nas
oficinas da Maison Baccarat e inspirado nas fontes dos Jardins de Shalimar. O
nome Shalimar quer dizer “a morada do amor” em sânscrito.
Quando foi lançado,
Shalimar foi considerado um perfume muito ousado para os padrões da época. Ele
representa um marco fundamental na história da perfumaria, pois é considerado o
primeiro perfume que inaugurou a família olfativa ORIENTAL e certamente o
percursor da família Gourmand.
Enquanto Chanel nº 5
é um floral aldeídico, Shalimar é um floral Oriental repleto de especiarias,
banhado por uma baunilha elegante e madeiras cremosas. É quente, sensual,
misterioso. Uma verdadeira mistura de aromas que nos levam à euforia e à
meditação quase que ao mesmo tempo.
Depois de uma semana
apreciando essa belíssima obra de arte, chego a conclusão de essa fragrância
possui uma magia indescritível. Onde quer que estejam nesse momento, certamente
Jahan e Mumtaz devem estar orgulhosos de serem homenageados por uma fragrância
tão maravilhosa e inigualável que, há mais de 90 anos tem inspirado e
participado de forma honrosa da história da perfumaria mundial.
Obrigada Ana Caldatto pelo presente lindo e por me inspirar a me aprofundar e conhecer melhor a magnífica história desse perfume.
Convido a todos a conhecerem o trabalho da Ana Caldatto, uma colecionadora de emoções:
Blog da Ana: http://anacaldatto.blogspot.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/anacaldatto/
Que história linda.
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